Guaçui
A História de Guaçuí e Sudoeste Espiritossantense (1810 ~ 1929)
Instituto Histórico e Geográfico de Guaçuí - Espírito Santo
Historiadores: Lucas Valverde Santana - Luiz Ferraz Moulin - Hélio José Moreira de Moraes
Até poucos anos atrás, pensava-se que a história de Guaçuí e de seus municípios vizinhos teve início com a expedição (Bandeira) do então sargento-mor Manoel José Esteves de Lima. Um explorador português, que saiu da aldeia de Cordeiros, em Riba de Mouros, província do Minho, em Portugal, no ano de 1801 para receber uma herança que lhe foi deixado por parentes que aqui moravam (Minas Gerais). Sua expedição passou pelo território do atual município de Guaçuí em 1820. Por todo o caminho - que ia até o atual município de Jerônimo Monteiro, Esteves de Lima foi deixando seus companheiros, com ordens para construir fazendas e prepararem locais para apoio dos viajantes que passassem pela recém redescoberta Estrada do Itapemirim, que ligava as cidades mineiras ao litoral da vila de Itapemirim, no sul da Capitania do Espírito Santo.
Mas na verdadeira história, Esteves de Lima, não foi o bravo desbravador que colonizou essas terras. Cinco anos antes, esteve por aqui o Alferes João do Monte da Fonseca.
Em 1808, D. João, o príncipe regente em nome de sua mãe, a rainha Maria I, preocupado com os ataques dos índios botocudos às fazendas e colonos que se instalavam na fronteira das Capitanias de Minas Gerais e Espírito Santo, criou a Companhia de Civilização e Conquista dos Índios e Navegação do Rio Doce, dividida em 6 áreas, tendo cada uma como comandante, um alferes. Esses tinham como objetivo executar qualquer índio que não aceitasse abandonar suas tradições e “ferocidade” (Segundo a Carta Régia de 13/05/1808) e também a se submeter a um período mínimo de 10 anos de serviço aos alferes e à coroa, o que não seria algo difícil, uma vez que entre os indígenas espíritossantenses, esses eram os mais violentos. Porém eles habitavam uma faixa de terra que ia do Rio Pardo (BA) ao Rio Doce (MG e ES), com pouquíssimos indivíduos na região sul dessas duas capitanias. Além do soldo de alferes, os comandantes, recebiam uma recompensa por cada botocudo morto e aquele entre os seis que fizesse o melhor trabalho, ainda ganharia como prêmio, mais meio soldo.
É fato que, os índios botocudos foram por muito tempo, uma barreira para o crescimento de Minas e do Espírito Santo, mas por outro lado, os índios puris - “tupis”, que habitavam as terras ao sul do Rio Doce, não eram tão selvagens e violentos, apesar de alguns escritores narrarem atos antropófagos que aterrorizavam os colonos brancos e corte.
A primeira expedição de João do Monte foi realizada em 1810, quando esse abriu uma estrada que ia desde o “Descoberto de Arripiados” – área aurífera, através dos atuais municípios de Iúna, Irupi, Ibatiba e Muniz Freire até Castelo. Os objetivos eram alcançar as minas de Castelo e possibilitar o acesso à Vila de Vitória (ES). Este caminho ficou conhecido como Estrada do Rubim, mais tarde, Estrada Pedro de Alcântara (Parte da atual BR-262), o qual influenciou antigo nome do município de Iúna, São Pedro de Alcântara do Rio Pardo. Esta gigante obra foi justificada pela necessidade de novas fontes de riquezas, uma vez que o ouro das Minas Gerais, já não era tão abundante como outrora. E também a procura de áreas potencialmente agrícolas.
Cinco anos mais tarde, em 1815, o alferes João do Monte recebeu mais uma tarefa: abrir uma nova estrada, esta pelo extremo sul das capitanias, na divisa com o Rio de Janeiro. Sua missão era simples, ele deveria fazer as reparações em uma picada que já existia, porém ha muito não era usada (embora não se sabe quem a abriu, estudos afirmam que tenham sido usadas por contrabandistas, para desvio de riquezas minerais).
Em seu diário, o qual foi recopilado mais tarde por Manoel José Pires da Silva Pontes (nono presidente da província do Espírito Santo e também membro do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil), João do Monte narra sua saída das proximidades de Ponte Nova, na época, parte de Mariana, descendo até São Miguel das Almas dos Arripiados, e depois para o Quartel do Glória, que seria a base de entrada na “Zona Proibida”. Há três dias de distância do Glória, encontraram os rios Carangola e Preto, próximo a então Serra dos Arripiados, também conhecida como Serra Negra (atual serra do Caparaó), na qual se fundou o Quartel do Rio Preto em 6 de julho de 1815. Ali João do Monte deixou um soldado ferido com alguns índios sobre o comando de Manoel Jorge.
Próximo ao Quartel do Rio Preto havia um povoado, o qual seria o Aldeamento Imperial de São Pedro de Rates - uma espécie de prisão semi-aberta de índios puris. Seguindo sempre as margens do rio Camapuam (atual Itabapoana) até perto da desembocadura do rio que João do Monte batizou de Rio do Veado em 16 de julho de 1815, apesar de não ter registrado o encontro com nenhum desses animais na região. A tropa desviou o caminho, subindo pelo Rio Veado, até certo ponto que caminharam para leste, onde encontraram um afluente do Itapemirim, o Rio Norte, pelo qual passaram pelo futuro município de Alegre, onde encontraram uma tropa espíritossantense que veio recebê-los.
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